Finanças aprova plebiscito para criação do Estado de Carajás
Giovanni Queiroz (PDT-PA) e Lira Maia (DEM-PA), contestaram os argumentos de Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), sobre viabilização da criação do Estado do Carajás.
Arquivo - Gilberto Nascimento
João Dado apresentou emenda que condiciona plebiscito à previsão no orçamento.
A Comissão de Finanças e Tributação aprovou por 19 votos a 2, nesta quarta-feira o Projeto de Decreto Legislativo 2300/09, do Senado, que autoriza a realização de plebiscito para a criação do Estado do Carajás, no Pará. O novo Estado seria constituído por 39 municípios localizados nas regiões Sul e Sudeste do Pará.
Foto: Victor Mendes
Os tucanos Zenaldo Coutinho e Arnaldo Madeira (PA e SP) foram os únicos parlamentares que votarma contra a matéria
O relator, deputado João Dado (PDT-SP), apresentou parecer favorável quanto à compatibilidade e à adequação financeira, com emenda. Segundo o deputado, a emenda tem o objetivo de condicionar a realização do plebiscito à efetiva dotação orçamentária.
De acordo com o texto, o plebiscito será realizado seis meses após a aprovação do projeto de decreto legislativo. O projeto aprovado também fixa um prazo de dois meses para o pronunciamento da Assembleia Legislativa do Pará.
A convocação do plebiscito é passo fundamental para a criação de um novo estado. Somente com a anuência da população dos municípios diretamente envolvidos, é possível dar continuidade ao processo, com a consulta da assembleia do estado a ser desmembrado e a aprovação, pelo Congresso, de uma lei complementar instituindo o novo estado.
De "lavagem"
"A votação de 19 a 2, representa a vontade desta Casa para com a criação da nova unidade que, efetivamente, contribuirá para o crescimento nacional e integrará a Amazônia ao desenvolvimento do país", disse o deputado Giovanni Queiroz, autor do projeto que cria o Estado do Carajás em tramitação na Câmara dos Deputados.
Tramitação
O projeto segue para a Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, será analisado pelo Plenário.
Íntegra da proposta:
PDC-2300/2009
“Volta da CPMF é golpe”, diz presidente da OAB
Ophir Cavalcante.
Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) afirma que Lei da Ficha Limpa já ajudou a expurgar muitos maus políticos
Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção
Representante maior da advocacia brasileira, Ophir Cavalcante condena a atitude de governantes que usam o cargo e a máquina pública no processo eleitoral e lembra que a OAB tem se posicionado de forma efetiva em relação ao problema. Ele diz que é necessário que se faça mudança a partir de agora, em razão do mau exemplo dado pelo presidente Lula, que se comportou como cabo eleitoral na campanha: “O presidente da República avançou, e muitas vezes, o sinal, e a Justiça Eleitoral demorou muito para acender o sinal vermelho para ele. As multas foram bastante irrisórias, mas era o que a lei proporcionava nesse momento.”
Ophir informa que a OAB, que nesta semana está completando 80 anos, pode encabeçar uma mudança no sistema política a partir de seminário que a entidade realiza nesta semana, em Brasília, chamado Reforma política, um projeto para o Brasil: “Vamos discutir durante três dias qual o Brasil que queremos em termos de política. Vamos discutir os sistemas partidário, eleitoral e de governo”, diz o presidente da OAB.
O advogado condena a intenção do governo de instituir censura aos meios de comunicação no Brasil. “A informação tem de ser livre, protegida pela Constituição e pela sociedade. Não pode haver retrocesso nessa questão”, afirma. Ele também critica o imbróglio do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). “Quem errou nessa questão tem de pagar. Milhões de estudantes estão sendo prejudicados. Se for preciso fazer outro exame, que se faça, mas os R$ 182 milhões terão de ser repostos por quem errou, seja na administração federal seja o contratado que não honrou com seus deveres.”
Esses e outros temas estão na entrevista a seguir, concedida na quinta-feira, 11, na sede da OAB de Goiás.
Cezar Santos — Como a OAB está acompanhando essa lambança do governo federal como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)?
Vemos com muita preocupação. A partir do momento que essa questão toma o rumo do Judiciário, se não tivermos bom senso e não abandonarmos as vaidades, ela vai se eternizar. Quem vai ser prejudicado nisso tudo é o aluno, aqueles 3,3 milhões de brasileiros que fizeram o teste com a perspectiva de ingressar em uma universidade pública e não vão saber como ingressar. Vai engessar tudo. Então, é necessário que se tenha uma solução rápida, que não demore, com a consciência de que se for preciso fazer um outro teste, faça-se um outro teste. Infelizmente, vamos gastar mais R$ 180 milhões, mas é necessário que se dê uma resposta. Agora, em relação àqueles R$ 182 milhões que foram perdidos, alguém vai ter de repor, seja quem errou na administração, seja o contratado, que não honrou com os seus deveres. Por isso é necessário que, ao mesmo tempo em que se delibere se vai ter um novo teste, se será parcial ou integral, que se cobre de quem foi responsável por esse erro.
Cezar Santos — Poucos dias depois da eleição, vem a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), falar da volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), um imposto que foi derrubado no Congresso há pouco tempo. Isso não é estelionato eleitoral, já que em nenhum momento o tema foi tocado na campanha?
Não tenho dúvidas de que essa questão da CPMF foi lançada como uma ação articulada entre os eleitos para jogar nos braços da sociedade a irresponsabilidade pela gestão pública do Estado brasileiro. Isso precisa de uma reação, a Ordem prontamente reagiu a essa proposta. Entendemos que essa proposta não foi discutida durante as eleições. Nenhum movimento - eu desafio qualquer um que me mostre - colocou em sua plataforma de campanha o retorno da CPMF, seja na discussão para governos de Estado, seja na discussão para a Presidência da República. Nenhum governante colocou isso. Trazer essa matéria, agora, esgotado o processo eleitoral, é um golpe. E, quando há golpe, temos de reagir. Por isso, a sociedade não pode consentir com o retorno da CPMF.
Danin Júnior — Por falar em eleição, alguns juristas, especialmente os que trabalham na área do Direito Eleitoral, dizem que houve certo tumulto nesse processo da Lei da Ficha Limpa. A OAB é copartícipe na apresentação popular da lei. Qual sua avaliação dessa confusão?
Toda lei nova, quando entra em vigor e quando mexe com direitos de pessoas que estão envolvidas em disputa eleitoral ou em qualquer outro tipo de disputa, sempre causa dúvidas, perplexidades. O próprio Judiciário se vê diante de uma nova norma que entrou em vigor e que modificou a relação anterior de respeito ao tratamento de questões importantes, como das candidaturas e inelegibilidade. Obviamente, ela vem e causa certo pânico e confusão e leva certo tempo para ser clareada. Por isso, compreendemos as idas e vindas em relação à interpretação da lei e essa insegurança que gerou em determinado momento. Isso ficou muito claro, inclusive por parte do próprio Superior Tribunal Federal (STF), em relação à eficácia da lei para estas eleições. Então, isso, obviamente, causou uma insegurança relativa na sociedade, mas, sobretudo no direito das pessoas de se candidatar. Tenho que reconhecer que ela causou isso. Mas, por outro lado, ela apontou, e nesse aspecto a Ordem entende que ela é constitucional, não só porque a defendeu desde o início, mas porque entende que ela, com base no artigo 14 da Constituição Federal, estabeleceu um requisito de inelegibilidade não previsto na própria lei anterior, a Lei Complementar de 1990. Isso significa que as pessoas que queiram se candidatar não devem ter condenações judiciais, sobretudo em relação a terem praticado crimes, condutas que são consideradas imorais, etc. Por isso, a lei modifica costumes, nos traz uma perspectiva nova e teve um efeito revolucionário, que foi o de o próprio eleitor ter consciência de que ele poderia eleger pessoas sem essas manchas entre aspas, no seu passado ou em suas condenações judiciais, por improbidade, etc., e excluí-los através do voto. Muitos daqueles que tinha problemas com a Justiça não foram eleitos. E nos parece ser o grande avanço para que se crie uma nova cultura para melhorar o quadro daqueles que fazem política no Brasil.
Danin Júnior — Não se discute o mérito da nova legislação. Mas a aplicação dela já neste ano não foi um pouco açodada?
Não vejo que tenha sido açodada. Na verdade, ela só teria sido inconstitucional, a meu ver, se retroagisse para prejudicar o mandato daqueles fichas sujas que estavam eleitos e exercendo seu mandato. Ao dizer que a regra agora, que a sociedade quer, é essa, ela abriu um novo caminho. É como se nós tivéssemos uma decisão, através da soberania popular, com base na Constituição Federal, aprovada pelo Congresso Nacional, sancionada pelo presidente da República, dizendo que a regra do jogo agora é outra. Isso não me parece modificar o direito político de quem quer que seja de participar. O que não pode é se continuar vivendo aquela situação em que as pessoas eternizavam as demandas judiciais para se beneficiar dessas demandas no que diz respeito ao não trânsito em julgado. Agora, está havendo uma condenação por um colegiado, em que a pessoa está sendo impedida de participar de um processo político. Muitas vezes essas pessoas zombavam de nós, zombavam dos eleitores, no sentido de que faziam, aconteciam, eram condenadas, com contas rejeitadas nos tribunais de contas, tinham improbidade administrativa dita por tribunais, e continuavam com o argumento de que não era um trânsito em julgado. Se eternizando na política, e muitas vezes tentando se louvar nas imunidades parlamentares, que muitas vezes cheiram a impunidades para determinadas pessoas, para não responder e para continuar se candidatando. E a sociedade não atentava para isso. Então, a Lei da Ficha Limpa teve esse aspecto da revolução cultural em chamar a atenção da sociedade. O número de pessoas que foram rejeitadas pelo voto em razão da Ficha Limpa é bastante expressivo.
Danin Júnior — O sr. não acha que o processo eleitoral deste ano, especialmente a campanha presidencial, não foi viciado pela participação direta do presidente como um cabo eleitoral? Como a OAB enxergou isso? As inúmeras aplicações de multas impostas por tribunais uma hora chegou à mesmice.
Eu não tenho dúvida de que o presidente da República, como todo governante e cidadão, pode ter seu próprio candidato. Deve ter seu candidato e pode declarar isso abertamente. Agora, a instituição Presidência da República, governo do Estado, prefeitura municipal não podem fazer campanha eleitoral. E isso é muito difícil de distinguir numa situação como essa, em que o governante está no poder e quer eleger seu sucessor. É necessário mudança a partir de agora, em razão dessa experiência de vida, em que o presidente da República avançou e muitas vezes o sinal, e a Justiça Eleitoral demorou muito para acender o sinal vermelho para ele, as multas foram bastante irrisórias, mas era o que a lei proporcionava nesse momento.
Danin Júnior — Isso virou até motivo de chacota...
É necessário que avancemos agora na discussão de uma reforma do sistema eleitoral para balizar a participação de presidente da República, de governador, de prefeito nesses processos eleitorais de sucessão. Da forma como está é desigual, eu não tenho dúvida disso.
Cezar Santos — Na campanha ficou muito claro que o partido que está no poder usou quebra do sigilo fiscal de adversários, usando a Receita Federal. Como o sr. avalia essa situação, até como cidadão mesmo, pelo fato de um partido aparelhar um órgão público com evidente propósito eleitoral.
Nós temos que ter em mente que o Estado brasileiro é maior que qualquer partido. O Estado tem que ter respeitadas as suas características, sobretudo privilegiada a burocracia do Estado, e não trazer para o Estado pessoas ligadas a este ou aquele partido, a este ou aquele governante, usando uma expressão popular aparelhando o Estado para levar suas ideias e convicções, sobretudo as partidárias. O Estado está acima da política, está acima de partidos. Vencido o processo eleitoral, o governante que assumir a União, o Estado ou o município deve ter uma postura de governar para todos, para toda a sociedade. Não pode haver, sobretudo, o que se vê muito em prefeituras, em governo de Estado, e isso aconteceu em relação à União, é se desmantelar a máquina estatal e criar uma burocracia de governo, e não uma burocracia de Estado. Por isso nós defendemos concursos públicos sérios para todas as carreiras jurídicas. Queremos que haja a possibilidade de ascensão funcional, que haja uma carreira de Estado, em que as pessoas, independentemente de quem estiver à frente momentaneamente do poder, tenham que seguir aquela carreira. É claro que o governante determina as políticas públicas. Então, cabe a ele, que foi eleito com o voto popular, dizer que fazer essa política pública assim, assada e cozida. Só que não pode em nenhum momento atentar contra a Constituição. O voto legitima, mas não dá uma carta aberta, um cheque em branco, melhor dizendo, ao governante fazer o que quer, desrespeitando a Constituição.
Cezar Santos — Nessa questão específica a OAB tomou alguma iniciativa?
A Ordem criticou em todos os momentos a postura do presidente da República, a postura de governadores de Estado que desbordaram dos parâmetros da lei. E cobrou do Judiciário que fosse duro em relação às punições. A Ordem é uma voz da sociedade brasileira, ela tem uma limitação no sentido de atuar, sobretudo no processo eleitoral, e cabe nessa situação à Justiça deliberar e decidir e ao Ministério Público, como titular da ação, estar atento e denunciar os fatos. A Ordem sempre cobrou e vai continuar cobrando essa postura.
Danin Júnior — A OAB já se notabilizou historicamente pelo posicionamento em vários momentos importantes da Nação, como, por exemplo, a luta pela redemocratização do País. Hoje em dia, uma luta que a OAB poderia encampar não seria essa da reforma política? Porque se sabe que partindo da classe política vai ser difícil que ela saia da forma que a sociedade quer. Por exemplo, nesse caso da Presidência foi um abuso de poder político. E de poder econômico em várias campanhas. A OAB encamparia a apresentação de um início discussão de um projeto de reforma política, está em encaminhamento?
Sim. Nesta semana a Ordem estará completando, dia 18 e novembro, 80 anos de criação. E nós elaboramos um seminário chamado “Reforma política, um projeto para o Brasil”. Vamos discutir durante três dias em Brasília, 16, 17 e 18, e vocês estão convidados a participar, qual o Brasil que queremos em termos de política. Vamos discutir os sistemas partidário, eleitoral e de governo. Serão três dias, nós vamos nos debruçar sobre isso e vamos ao final redigir uma carta à nação brasileira, que será entregue ao presidente do Congresso Nacional da próxima legislatura, para a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), apontando quatro ou cinco pontos, ou até mais, que são importantes dentro da concepção da OAB para que sejam discutidos já no próximo governo. Mas, independentemente a isso, vamos lançar uma proposta de uma lei de iniciativa popular, nos termos do Ficha Limpa, já apontando um caminho em relação a alguma proposta que seja possível fazer desde logo. Quero crer que há espaço para isso. Eu não posso de antemão divulgar qual será o tema dessa lei, mas a Ordem está atenta e vai trabalhar com a sociedade civil brasileira, com as 48 entidades que compõem o movimento de combate à corrupção, mais a CNBB, essa luta em favor de uma reforma política para o Brasil.
Cezar Santos — No que se refere à questão da censura aos meios de comunicação, o governo vem se movimentando em direção ao que seus partidários chamam de controle social da mídia, que no fundo é censura. Como a OAB se posiciona em relação a isso?
De uma forma bastante crítica, eu diria, muito forte. A liberdade de imprensa é um princípio constitucional que não comporta um milímetro sequer de intransigência. Nós não podemos, sob o argumento de se fazer um controle social da mídia, estabelecer a censura prévia. As informações produzidas pela imprensa têm que ter a proteção por parte da Constituição, por parte da sociedade. Não pode haver qualquer tipo de controle. Isso tem acontecido porque os governantes, infelizmente, não têm tido a compreensão de que a crítica é necessária, salutar, a crítica sempre responsável, claro. E essa fiscalização feita aos governantes incomoda muito. Governante adora quando a imprensa elogia, mas abomina quando a imprensa critica, quando a imprensa cobra. Por isso que é necessário que tenhamos essa proteção à imprensa brasileira. Não há democracia sem liberdade de imprensa, ela é um pilar da democracia nesse país, é uma cláusula pétrea na Constituição que não pode ser modificada.
“O Judicário é moroso e tem falhado”
Cezar Santos — O MST ocupa espaço na mídia, invade propriedades, comete vandalismo, destrói patrimônio público e privado, seus integrantes matam e, no entanto, ela não tem existência jurídica, não pode ser acionada. Qual é sua visão sobre isso?
O MST nasceu como um movimento de reivindicação de um segmento que não tinha seus direitos respeitados, que eram os sem-terra. Nasceu como uma forma de pressionar e de estimular a reforma agrária. É um movimento legítimo, só que no curso do tempo ele se desvirtuou e passou a ter confluências ideológicas, partidárias. Hoje o MST, efetivamente, não tem mais a formatação filosófica, sociológica, que teve em seu nascedouro. Tornou-se um movimento a serviço de um segmento ideológico e, às vezes, de alguns partidos. Por isso, lamentavelmente, perdeu a credibilidade. E aí, o que é pior: passou a utilizar procedimentos de violência, destruindo fazendas produtivas, destruindo laboratórios, enfim, algo que não se compatibiliza com a própria luta pela reforma agrária. Não se teve até hoje uma reforma agrária, não houve um governo democrático no País que tenha cuidado efetivamente da reforma agrária. Aí, leia-se, reforma agrária não como a simples entrega de lotes. Mas, sim, como uma reforma efetiva, em que se dê terra, se dê condições para produzir, se proteja o camponês e se deem condições para que ele escoe a sua produção. Então isso não se tem no Brasil. Reforma agrária não é entregar lote. Lamentavelmente, nenhum governo eleito popularmente passou disso.
Cezar Santos — Só que o governo financia o MST, que faz e acontece e fica por isso mesmo...
Infelizmente, essas ajudas que têm sido dadas, substanciadas com o nosso dinheiro para incentivar esse tipo de postura, precisam ser revistas. Isso não se compatibiliza com um Estado verdadeiramente democrático, de direito. Isso não tem a aprovação da sociedade brasileira, além de ser má utilização dos recursos públicos, e tem de ser corrigido por parte do Judiciário, do Ministério Público, que precisam enfrentar essa questão. Mas volto a repetir e quero deixar claro, a Ordem é a favor da reforma agrária. Há no País há uma concentração de renda exagerada. Há aqueles que ganham muito pouco e há aqueles que ganham demais. É necessário que se diminuam as diferenças. Isso, dentro de processo democrático, de respeito à Constituição. Tudo aquilo que desborda da Constituição, da lei, evidentemente não pode ter apoio da sociedade nem dos governos.
Danin Júnior — Retomando o processo eleitoral, algumas pessoas criticaram alguns temas de campanha, e eu até acho que foram debates axiológicos interessantes, como a legalização do aborto, a união entre pessoas do mesmo sexo. A OAB tem um posicionamento sobre esses temas ou ela faz como os políticos, que acham que tem de entregar para o povo a decisão em um referendo?
A Ordem discute todos os temas, em qualquer ambiente, não há dificuldade alguma para a Ordem enfrentar qualquer temática. A temática do aborto e da opção religiosa de cada qual é uma temática que está sempre presente em nossas discussões. Em todas as conferências nacionais, a gente discute essa matéria. A Ordem é a favor da vida e quer, cada vez mais, que as pessoas tenham condições de poder ter uma educação efetiva no que diz respeito às questões de saúde pública. Educação efetiva para permitir às pessoas decidirem se vão ter filhos ou se não. A Ordem quer que a saúde pública proteja essas pessoas, enfim. Mas, evidentemente, nós temos na advocacia, como em todos os segmentos da sociedade, pessoas que são contra e pessoas que são a favor do aborto. Pessoas que são a favor ou são contra o Estado laico ou o Estado não laico. Esses temas não são unanimidades na sociedade, porque dependem muito da formação de cada qual. O Conselho Federal da Ordem ainda não tem, hoje, uma posição fechada em torno do tema, se é contra ou a favor. Nós respeitamos as individualidades, respeitamos a opção de cada qual, mas somos sempre favoráveis à vida.
Danin Júnior — Cerca de 50 mil pessoas são mortas por ano no País. O problema da segurança tem sido visto com certa permissividade do Judiciário. Segundo uma expressão popular, a polícia prende criminoso e o Judiciário solta. Qual a visão da OAB com relação a essa questão da violência, da segurança pública, e com sobre essa acusação de que o Poder Judiciário não está funcionando a contento?
A violência e, de modo geral, a questão da segurança pública envolvem fatores sociais, ausência de políticas públicas, a questão educacional, a questão do emprego, enfim, tudo isso está em sua base, em sua raiz. Nós temos um fato social presente e que precisa ser enfrentado. Mas o que falta em relação a isso, a nosso ver, é o compromisso dos governantes e ações integradas entre União e Estados no sentido de se ter uma política nacional de combate à violência. Isso é algo que nós queremos ver se o governo Dilma e os governos estaduais, independentemente de serem alinhados ou não aos partidos que vão governar o Brasil, vão nos trazer. É necessário que se tenha a compreensão de que esse é um dever de todos os governantes. O dever de melhorar, cada vez mais, a segurança pública neste País.
Danin Júnior — E quanto à questão do Judiciário, as respostas do Judiciário em relação a essas demandas...
O Judiciário julga de acordo com a lei. Ele, evidentemente, tem falhado. Falhado no que diz respeito à morosidade com que tem julgado as questões. É necessário que o Judiciário esteja muito mais preparado estruturalmente. É necessário que haja um compromisso ainda maior dos juízes. Não é concebível que nós tenhamos no Brasil, pelo levantamento feito pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) mais recentemente, 30% dos presos provisórios, em torno de 150 a 200 mil presos provisórios com anos e anos para serem sentenciados. As pessoas estão dormindo nas cadeias sem saber o dia em que serão julgadas. Então é necessário que o Judiciário deite um olhar sobre essa situação. A CNJ divulgou hoje que não se tem, no censo de segurança pública do Estado do Pará — e isso deve ser parecido no Brasil inteiro —, a exatidão do número de presos que estão dentro do sistema penitenciário do Estado. Isso mostra como essa questão da segurança pública é o que assusta, é o que não tem tido a merecida atenção dos governos. Isso se tornou uma demanda da sociedade, tal qual existem demandas em relação à educação, à saúde. Qualquer governante, para se fazer um bom governo e pensar em uma reeleição, precisa cuidar bem da segurança pública. É inconcebível que nós, cidadãos, que saímos nas ruas, sejamos vítimas de assaltos, sequestros relâmpagos. Estamos vivendo nesse Brasil uma verdadeira guerra civil urbana. São 50 mil homicídios, fora outros crimes que não terminam com morte. Essa guerra civil urbana precisa de uma reação por parte do Estado. Agora, essa reação não pode ser isolada em uma unidade da federação. Até porque, quando você combate em um lugar, o criminoso vai para outro, e o crime organizado está presente em todos os momentos. Dizem até que o crime organizado já está presente até no financiamento de campanhas eleitorais. Então, a gente precisa cuidar disso porque é um problema social macro e é necessário que haja um olhar macro sobre isso e não um olhar micro, como tem sido feito até hoje. Resolve aqui, coloca a polícia no morro e tal e já está resolvido no Rio. Sim, mas aí o criminoso sai do Rio, vai para São Paulo, vem para Goiás. Então, é necessário um olhar nacional a respeito de uma política de segurança pública para nosso País.
Cezar Santos — Como o sr. avalia o anteprojeto do novo Código de Processo Civil?
O anteprojeto foi apresentado por uma comissão de notáveis e hoje está no Senado, sob a relatoria do senador Valter Pereira (PMDB-MT). A partir de um problema detectado, através de números, que é o da morosidade da Justiça brasileira, o projeto procura, sem prejuízo da atividade profissional do advogado e sem prejuízo da ampla defesa da parte, diminuir os gargalos existentes no que diz respeito ao andamento processual. Então, ele avança bastante nisso. É um código mais moderno. Evidentemente, será discutido e receberá críticas. A Ordem fez muitas críticas ao projeto. Muitas foram absorvidas, outras não. Acredito que o projeto ainda vai sofrer um processo de maturação. Talvez seja votado no Senado nesta legislatura e esperamos que isso aconteça. Mas ele não será resolvido tão cedo. Nós vamos discutir isso no próximo ano, já com a nova Câmara.
Cezar Santos — É preciso rever a questão do recesso forense?
Sim. Nós precisamos acabar com isso. O recesso forense de 19 dias é um plus que o magistrado e o membro do Ministério Público têm nas suas férias, que são de 60 dias. Isso tem de acabar e se estabelecer um período de férias coletivas de 30 dias e outro período de 30 dias, que os juízes e membros do Ministério Público poderão tirar de acordo com as escalas de cada um dos tribunais, sem haver a solução de continuidade na Justiça. Nesse período, que se sugere que seja no mês de janeiro de cada ano, todos poderão tirar férias, mas a Justiça continuará funcionando para analisar as questões urgentes para evitar perecimento de direitos, habeas-corpus, mandado de segurança, etc., com juízes de plantão. A Ordem defendeu, com a Emenda Constitucional 45, que se acabasse com todas as férias coletivas na Justiça. Isso se mostrou improdutivo do ponto de vista da racionalidade dos trabalhos do Judiciário. Por que acabaram as férias coletivas de 30 dias, tanto em janeiro quanto em julho, quando se parava o Judiciário. Ao acabar com essas férias coletivas, os juízes tiravam férias porque têm esse direito individualmente. Então, era convocado um juiz de primeiro grau para compor os tribunais. Esse juiz tinha um entendimento diferenciado, modificava a jurisprudência daquele tribunal e tudo aquilo que já tinha sido julgado de uma forma. Causava insegurança jurídica para as pessoas porque mudava a composição do tribunal. Então, em vez de ter um ganho de celeridade, os números demonstram que teve maior atraso. O que se quer agora é estabelecer janeiro com mês de férias para todo mundo. Nesse mês, só funcionarão os plantões. A partir de fevereiro, a Justiça brasileira vai funcionar ininterruptamente até o final de dezembro.
Cezar Santos — A advogada Delaíde Arantes, que está na lista tríplice para ingressar no Tribunal Superior do Trabalho, tem chance de ser nomeada?
Sim, a doutora Delaíde tem sido uma grande advogada trabalhista, reconhecida por toda a classe jurídica deste País. Ela foi uma das seis escolhidas pelo Conselho Federal da OAB [e posteriormente pelos ministros do TST para integrar a lista tríplice final, que será submetida ao presidente Lula da Silva]. Tenho certeza de que ela tem grande chance de integrar o TST, pela competência e pela seriedade. Agora, temos mais dois colegas advogados e eu não posso, nesse momento, dizer qual a minha preferência pessoal. Até porque consideramos que todos têm capacidade de integrar o TST.
PDT lança novo portal
Troca no comando da Vale
Leia a nota.
O PT listou quatro figurões do governo Lula entre as alternativas para a sucessão de Roger Agnelli, na Vale: o deputado Antonio Palocci, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e do Banco do Brasil, Aldemir Bendine. A cúpula do partido acredita que a presidente eleita Dilma Rousseff é o maior obstáculo para que Palocci assuma o cargo - ela pode mantê-lo em Brasília. Mantega e Coutinho estão na mesma situação. Enquanto isso, Bendine faz gestões com políticos do PT mineiro. Espera contar também com o apoio do presidente da Previ e do conselho da Vale, Ricardo Flores, seu antigo colega de diretoria do BB.
Esperamos que não esteja em curso um "Vale Tudo do PT".
Governo pode proibir parlamentar de ser dono de rádio e TV
Parece incrível e essas coisas só acontecem no Brasil.
Anteprojeto de lei para regulamentar a convergência na área de comunicação vai tornar explícita a proibição de deputados e senadores serem proprietários de emissoras de rádio e TV. Texto deve ser concluído até o final do ano.
O anteprojeto de lei que o Executivo prepara para regulamentar as comunicações vai proibir explicitamente a propriedade de emissoras de rádio e televisão por parlamentares. O anúncio, que foi feito pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins, no "Seminário Internacional Comunicações Eletrônicas e Convergências de Mídias", promovido pelo governo nesta semana, já provoca divergências na Câmara sobre a necessidade de a lei prever essa proibição.
O líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen (SC), acredita que a Constituição já impede parlamentares de serem sócios de rádio e TV. “Basta cumprir as regras existentes”, disse. De acordo com a Constituição, deputados e senadores são proibidos de serem proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público. Como rádios e TVs são concessões públicas, alguns constitucionalistas acreditam que o impedimento já está suficientemente claro.
Porém, segundo o relatório final da Subcomissão Especial de Outorgas e Concessões de Radiodifusão, que funcionou entre 2007 e 2008, esse não tem sido o entendimento das autoridades. Por isso, a subcomissão propõe a criação de uma proposta de emenda à constituição que expressamente proíba parlamentares e outros ocupantes de cargos públicos a ter empresas de radiodifusão. O texto também recomenda, por exemplo, a adoção de uma série de iniciativas para tornar mais transparente o processo de outorga para canais de rádio e TV.
Convergência tecnológica
O anteprojeto vai propor uma lei geral para o setor de comunicações, incluindo rádio, televisão e telecomunicações. O texto, que está sendo escrito por grupo de trabalho interministerial, será finalizado ainda este ano e entregue à futura presidente da República, Dilma Rousseff. “Ela irá decidir se abre consulta pública ou se envia a proposta imediatamente ao Congresso Nacional”, explicou Martins.
Durante seminário, que serviu para fornecer subsídios ao anteprojeto, o ministro adiantou que a nova norma procurará se adaptar à convergência tecnológica. “Nossa legislação é absolutamente ultrapassada”, disse. O Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117/62), que regula atualmente a radiodifusão (rádio e TV aberta), foi feito quando não havia, por exemplo, satélites ou internet. Já a Lei de TV a Cabo (8.977/95), apesar de mais moderna, não abarca, por exemplo, a possibilidade de empresas de telefonia oferecem o serviço – hoje, possível graças ao processo de convergência. Já a Lei Geral de Telecomunicações (9.472/97), por sua vez, não contempla regras para a massificação da internet de banda larga.
Segundo Martins, uma das prioridades da nova lei será regulamentar os dispositivos constitucionais referentes às comunicações, como o que prevê o estímulo à produção de conteúdo audiovisual nacional, regional e independente; e o que proíbe monopólios e oligopólios na mídia.
Produção nacional
O deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE) considera positiva a iniciativa do governo. Para ele, é essencial que o anteprojeto trate as comunicações de forma convergente, a fim de trazer benefícios para o consumidor. Conforme Lustosa, a possibilidade da regulação de conteúdos é uma questão “sensível” e deve estar restrita a pontos específicos, como impor limites à publicidade e estimular a produção nacional. O parlamentar foi o relator do Projeto de Lei29/07, que propõe um novo marco legal para a televisão por assinatura. O texto já foiaprovado pela Câmara e, atualmente, está em análise no Senado (PLC 116/10).
Para o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), o anteprojeto do Executivo deve ter como prioridades regulamentar a produção nacional independente de conteúdo audiovisual e atualizar a Lei Geral de Telecomunicações, para que esta dê conta do desafio de massificar a internet de banda larga. O substitutivo aprovado ao PL 29/07 já prevê o fomento à produção nacional e independente de conteúdo e o estabelecimento de cotas para esse tipo de conteúdo na TV paga. “O PL 29/07 estabeleceu um novo paradigma, que pode servir de base para a regulação desses pontos também na TV aberta”, disse Bittar.
Analistas não acreditam que Lula e Dilma revertam "guerra fiscal" em Seul
Entrevista: Gustavo Loyola
Apesar de todos os esforços que o presidente Lula e a presidente eleita, Dilma Rousseff, estão dispostos a fazer na reunião do G-20, que começa depois de amanhã na Coreia do Sul, para conter a guerra cambial que atormenta o mundo, as chances de sucesso são mínimas. Na avaliação do economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Consultoria Tendências, os dois principais polos dos problemas — os Estados Unidos e a China — manterão as suas posições, pois as prioridades são as suas economias. Ele ressalta que por trás do que todos chamam de guerra cambial pode estar uma guerra comercial, com efeitos nocivos para todos os lados. O pior, acrescenta o economista, é que o Brasil não tem muito o que fazer e continuará atraindo capitais e convivendo com a supervalorização do real e uma enxurrada de importados, um problemão para a indústria nacional. “Não temos como construir um dique suficientemente grande para proteger o país”, afirma. A seguir os principais trechos da entrevista que Loyola concedeu ao Correio. (VC)
Como o senhor está vendo a guerra cambial que
atormenta ao mundo?
Está claro que não estamos diante de uma guerra em torno do câmbio. Os países desenvolvidos estão querendo se livrar da fatura da crise de 2008. Cada um está fazendo o possível para jogar a conta no colo do outro, o que resulta em toda a confusão atual. Todos estão querendo jogar o ônus do ajuste no vizinho. Mas o problema pode ficar pior. A situação pode se deteriorar para uma guerra comercial.
Como o Brasil está enfrentando essa guerra cambial? Os
estragos já são visíveis na economia no país, apesar da adoção de medidas como o aumento do IOF de 2% para 4% sobre o capital estrangeiro.
Infelizmente, o Brasil não tem muito o que fazer. Na realidade, está pagando o preço de estar crescendo mais do que o resto do mundo. Os países desenvolvidos estão querendo jogar o pepino nas nossas costas.
O que isso significa?
Estamos fadados a absorver a produção externa via valorização do real. E as indústrias locais estão sofrendo o ônus disso, pois não têm como competir com os importados mais baratos. Com o resto do mundo em situação pior, somos o destino natural da produção dos países desenvolvidos. E o Brasil não tem uma economia que possa enfrentar a avalanche de produtos vindos de fora.
Vários economistas estão defendendo um rígido controle cambial, com prazo para o dinheiro que entrar no país
voltar ao país de origem. O senhor compartilha dessa opinião?
Não, pois controle cambial não funciona. Ou melhor, funciona durante um tempo, depois não mais. Não é a melhor política. Os mercados financeiros hoje são muito eficientes. Eles criam maneiras para driblar as restrições. O governo proíbe determinada operação e o mercado, imediatamente, inventa outra para continuar operando. Vira um processo circular. O governo se vê obrigado a ficar criando cada vez mais novas proibições. Chega uma hora que nada mais funciona.
Qual o melhor caminho para fugir das atuais armadilhas?
O ideal seria se tivéssemos uma política global, com todos os país atuando conjuntamente. É isso que o G-20 está tentando. Mas não será fácil. O Banco Central dos Estados Unidos, por exemplo, deve satisfação aos norte-americanos e vai continuar agindo apenas para favorecer a economia daquele país.
Fonte: Correio Braziliense
Lula ordena: nada de reajustes para os barnabés
Por Denise Rothenburg para o Correio Braziliense
Transição
Como o retrato das contas públicas sinaliza um Orçamento enxuto no primeiro ano de governo da presidente eleita, equipe de Dilma Rousseff vai trabalhar para impedir aprovação de leis que signifiquem gastos adicionais
A primeira reunião entre a equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff, e ministros do governo Lula é um banho de água fria naquelas categorias que circulam pelo Congresso Nacional em busca de reajustes salariais. Com os gastos públicos no limite, a ordem é evitar aprovação de qualquer projeto que represente aumento de despesa, inclusive o que trata do salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que passarão a receber R$ 26,7 mil a partir de fevereiro. “Vamos trabalhar para que não se aprovem projetos de impacto orçamentário”, contou ao Correio o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que participou da reunião da transição e hoje tratará do assunto com os líderes do governo no Congresso.
O relato sobre a situação das contas públicas foi feito pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Da parte do governo Lula, estava ainda Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente da República. A presidente eleita não participou. Da equipe de Dilma, além do vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), estavam o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e os responsáveis pelo desenho da parte econômico-administrativa da transição, os deputados Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo (PT), que ficarão no Brasil trabalhando nas contas enquanto a presidente eleita estará em Seul com o presidente Lula. A conversa durou menos de duas horas.
A situação relatada por Paulo Bernardo foi a de que não há folga orçamentária para o ano que vem e que o novo governo terá que fixar prioridades, ou seja: aumentar o salário de categorias que já têm uma boa remuneração ou investir em atividades-fim do governo. Pela conversa que Dilma teve com Lula na noite de domingo, relatada numa primeira reunião a Palocci, Dutra e Temer, a ordem é evitar a criação de novas despesas e mesmo de novos cargos comissionados e tribunais, muitos de iniciativa do próprio governo, e optar por ações mais efetivas do ponto de vista político e social — como o aumento do salário mínimo além dos R$ 538,25 previstos no Orçamento encaminhado ao Congresso. “Esse tema não foi tratado, mas não está dispensado”, afirmou o vice-presidente Michel Temer, porta-voz oficial da reunião.
Temer não entrou em detalhes sobre o reajuste do mínimo, mas a ideia é não dar à oposição o discurso de que Serra daria R$ 600 e Dilma ficou apenas com a correção da inflação. Até porque, se não der um algo mais agora, em 2012 o aumento terá que ser maior por causa da variação do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que é usado para determinar o reajuste. Sendo assim, a ideia é antecipar um pouco do aumento do mínimo de 2012 para 2011. Esse mecanismo, entretanto, exige cuidado em outros gastos.
Torcida
Como presidente da Câmara, Temer evitou falar que a reunião tratou de barrar projetos que representem aumento de gastos. Disse apenas que o Orçamento foi discutido, mas não entrou em detalhes. Dilma não deu entrevistas. Ela viajou ontem à noite para a Coreia do Sul, onde desembarca amanhã para integrar a comitiva do presidente Lula. É nesta viagem que ela elencará as prioridades e definirá quem do atual governo permanecerá no primeiro escalão, pelo menos em 2011. “A torcida é a mesma, mas os times são diferentes. Não vai dar para manter todo mundo”, contou um dos mais fiéis colaboradores da futura presidente.
Além das questões econômicas e de composição de governo, Dilma está preocupada ainda com os gargalos de infraestrutura e de crescimento. Em algumas conversas, tem se referido especificamente a aeroportos. Ela tem avaliado que 2011 será crucial para acelerar as obras necessárias para a realização da Copa do Mundo de 2014. Na proposta orçamentária encaminhada em agosto, há R$ 444 milhões para segurança pública e ações relativas à Copa. Para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são R$ 43,5 bilhões. Se levar em conta os restos a pagar — R$ 50 bilhões — não haverá recursos para realizar tudo o que está previsto em investimentos diretos do governo federal, de R$ 52 bilhões.
Para não deixar essa conta mais estreita, a ordem neste fim de ano é votar apenas as 12 Medidas Provisórias que estão na pauta da Câmara e o projeto de lei sobre a exploração de petróleo na camada pré-sal. Os demais projetos devem ficar para 2011, quando o novo Congresso toma posse.
Gargalo da saúde
Um dos problemas da renovação de 43,5% do Congresso é que o governo perdeu a noção de qual é a margem a sua disposição para colocar em pauta temas polêmicos, inclusive o projeto de lei que regulamenta a aplicação de recursos na área de saúde. A proposta cria a Contribuição Social da Saúde (CSS), o novo nome do imposto do cheque, a CPMF. Se o projeto terminar aprovado sem essa fonte de financiamento, o governo terá que gastar mais em saúde num Orçamento já apertado.
TORNEIRA FECHADA
Alguns projetos que trazem embutidos o aumento de gastos
PEC 300/08 - Fixa o piso nacional de policiais militares e bombeiros
PEC 308/04 - Trata da polícia prisional
PEC 544/02 - Cria tribunais regionais para quatro regiões
PEC 549/06 - Trata da carreira dos delegados.
PEC 487/05 - Trata da Defensoria Pública
PL 7749/2010 - Aumento de salário dos ministros do STF
PL 3952/08 - Cria a carreira de analista executivo
PL 4455/08 - Altera valores de gratificações de vários órgãos do Executivo
PL 3429/08 - Cria mais funções comissionadas no Poder Executivo
Avança proposta que estipula prazo de validade para Carteira de Identidade
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou proposta que muda regras sobre o prazo de validade de carteiras de identidade. Pela mudança aprovada, a carteira de identidade emitida antes dos 18 anos deverá ser revalidada em no máximo 10 anos e aquelas emitidas após os 18 deverão ser revalidadas pelo menos a cada 20 anos. Atualmente, não há prazo de validade para esses documentos.
A proposta também inclui na lei 7.116/83, que regula a validade de documentos de identificação, os documentos emitidos por órgãos federais e pelos comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Como tramita em caráter conclusivoRito de tramitação pelo qual o projeto não precisa ser votado pelo Plenário, apenas pelas comissões designadas para analisá-lo. O projeto perderá esse caráter em duas situações: - se houver parecer divergente entre as comissões (rejeição por uma, aprovação por outra); - se, depois de aprovado pelas comissões, houver recurso contra esse rito assinado por 51 deputados (10% do total). Nos dois casos, o projeto precisará ser votado pelo Plenário., a proposta agora será encaminhada ao Senado. Atualmente, a legislação prevê validade nacional apenas para os documentos emitidos pelos estados e pelo Distrito Federal.
Giovanni denuncia falhas da Celpa à ANEEL
resolver falta de energia no sul do Pará
O deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) encaminhou na última semana ofício de seu gabinete ao presidente da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), Nelson Hubner, onde denuncia de forma veemente as falhas operacionais da Celpa (Companhia de Energia Elétrica do Pará) no sul do Estado.
De acordo com o parlamentar, ele próprio já reclamou diversas vezes com a concessionária, que não toma nenhuma atitude que ponha fim aos inúmeros apagões que a região sul-paraense é vitimada de maneira diária. "Tanto governos municipais como empresas que lá querem investir, crescer, gerar emprego e renda se vêem completamente amarrados de prosperar", disse Giovanni.
A intenção do ofício, segundo o deputado paraense, é encontrar uma solução definitiva para a situação. "Lá nos municípios da região, estão todos, prefeitos, vereadores, empresários, trabalhadores e comunidades em geral, angustiados por ver o dia em que a Celpa irá regularizar a situação e oferecer um serviço de qualidade sem cortes de energia", anotou.
O estopim para que o deputado pedetista se cansasse de procurar a empresa concessionária e denunciar formalmente a Celpa à ANEEL foi um encontro que o parlamentar teve na semana passada em seu gabinete na Câmara dos Deputados com o presidente da Câmara Municipal de Parauapebas, José Adelson Fernandes, também do PDT, que reclamou que as constantes falhas de energia impedem que o novo distrito industrial do município possa receber novas empresas porque a Celpa ainda não levou eletricidade até lá.
Após o envio do ofício-denúncia, o deputado Giovanni Queiroz afirmou que aguardará um posicionamento da ANEEL sobre a questão. "Vou aguardar o posicionamento da Agência para a partir daí tomar alguma iniciativa", disse. O parlamentar acredita que dentro de três a quatro meses será o tempo necessário para que a instituição que regula as empresas concessionárias tome alguma providência. Giovanni Queiroz descartou por agora o pedido de uma audiência com o presidente da ANEEL. "Vou aguardar a apuração da denúncia e uma resposta", finalizou.
Ex-procurador envia carta a presidente do TSE
Mensagem do escritor Agassiz Almeida ao ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Neste momento da vida da nação, quando o ordenamento jurídico do país é afrontosamente atropelado e a soberania popular, alicerce do Estado Democrático de Direito, pisoteada pelo Tribunal Superior Eleitoral, (TSE), dirijo esta mensagem a Vossa Excelência carregada de indignação como expressão das consciências livres.
De alguns meses para cá, ao acompanhar os julgamentos do TSE, um temor me domina. Não sei se meus olhares se turvaram. Certos julgadores, desta alta Corte de Justiça, transvestem-se em verdadeiros semideuses do Olimpo. O que eles retratam nos deixa uma sensação de sobressalto. Sob o amparo de uma desordenada lei da ficha limpa, sobrelevam a soberania popular manifestada em milhões de sufrágios e escolhem, eles próprios, os eleitos gestados naquele cenáculo de justiça.
Que excrescente tipo de democracia é esta em que os derrotados nas urnas se metamorfoseiam em vitoriosos?!
A que assistimos? À ditadura da justiça, aliada à tirania da mídia, a desencadear implacáveis julgamentos de escancaradas iniquidades. Neste enorme anfiteatro, as mãos que enfeixam o poder televisivo são as mesmas que acusam, julgam e lançam à execração pública os guilhotinados.
Que poderosa atriz compõe este cenário! Ela se chega transfigurada sob o manto da serenidade, imparcialidade e, acima de tudo, numa majestática postura de não se curvar a nenhuma pressão de qualquer jaez. De quem falamos? Desta desditosa deusa Thémis em cuja mão puseram uma balança representando a justiça, e na outra, uma espada, representando o poder da força. O que hoje se pratica traumatizando o país? Arrancaram a venda dos olhos de Thémis, quebraram a balança em que ela sustenta o direito e se desandaram num festival de insensatez, no qual a soberania popular é malbaratada.
Assim, somos jogueteados pelo “samba do crioulo doido”, bordão lançado por Stanislaw Ponte Preta em crítica à Ditadura Militar.
Convoca o TSE o povo brasileiro para o “desideratum” das urnas. Eleitos os vitoriosos pela livre e legítima vontade popular, os semideuses do Olimpo os derrotam nos seus conciliábulos e fazem ungidos como seus preferidos os candidatos derrotados. Que tipo de idiossincrasia é esta? Só Molière poderia teatralizar este quadro de patético surrealismo.
Em certo julgamento ocorrido no alto plenário da Justiça Eleitoral, um destes Catão, intervindo no processo de votação, lançou no mesmo caldeirão os protestos tiriricados e a votação emanada da soberania popular.
Que escárnio indecente!
Ousamos perguntar: como aquele constitucionalista chegou até ali naquele alto proscênio do Tribunal Superior Eleitoral?
Ao assistirmos às sessões deste tribunal, temos a sensação de olhar um despenhadeiro no fundo do qual justiçados pelo ódio são lançados à desdita pública. No mundo, só a Justiça do Brasil pratica esta arte demoníaca do linchamento televisivo.
De que sabedoria e imparcialidade se investem aqueles oráculos da lei ao sobrepairarem impávidos à vontade das urnas?
Neste cenário, um vulto, dando-nos a impressão de que queria saltar da tela da televisão, contorceu-se e riu. Quem era aquele tipo? Um ministro, filhote da Ditadura Militar. Com o seu voto, ele venceu a soberania popular.
Para certos julgadores, de formação antidemocrática, que plena inebries assistir à vontade do povo esfarrapada. Uma espécie de frenesi os domina. Dizem eles: “Que democracia é esta que produz os Tiriricas da vida?” Sabem estes críticos que o regime democrático tem instantes de grotesco. É a alma do povo nos seus desvãos.
Quando a soberania popular, base do Estado de Direito, é afrontada, instala-se o caos que ameaça a democracia.
O que presenciamos? A liberdade e a livre escolha democrática pelo voto do povo desconstituídas pelo arbítrio de alguns olímpicos julgadores. Que justiça é esta? Que direito tem a ampará-la?
Desventurado Brasil onde se comete tamanha insensatez. Afinal, para onde caminha a nação com estas afrontas aos postulados democráticos, Sr. ministro? Esta justiça em descompasso com a soberania popular foge ao tempo presente e se desanda pela vontade e ambição de certos grupos.
Cabe a Vossa Excelência por um basta nesta marcha da insensatez e fazer o reencontro da Nação com os verdadeiros ideais de Justiça.
Plenário de tribunal não é arena de Coliseu romano onde se expunham condenados e os execravam para o delírio das multidões. Os centuriões de hoje precisam ser refreados, Sr. ministro. Eles estão por aí sôfregos por holofotes de televisão.
Saudações democráticas,
* Agassiz Almeida
*Agassiz Almeida, deputado federal constituinte de 1988, escritor do grupo Editorial Record, autor destes clássicos da literatura brasileira, “A República das elites” e “A Ditadura dos generais”. Promotor de Justiça aposentado, professor da UFPB. Participou de vários congressos mundiais em defesa dos Direitos Humanos e de autênticas democracias.
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