"Não sou uma Bebel", diz Mônica Veloso

Mônica nega ser uma Bebel da vida
Alessandra Pereira - Correio Braziliense

QUEBRA DE DECORO

Pivô do escândalo que quase cassou Renan Calheiros é capa da Playboy deste mês. Sem arrependimento, ela afirma que sua trajetória não tem nada a ver com a personagem da novela Paraíso tropical

Mônica sobre o caso com senador: “Eu não tenho nada a comentar”


São Paulo
Depois de ter sido pivô do escândalo envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a jornalista Mônica Veloso deve ganhar projeção nacional ainda maior nos próximos dias. Ela é capa da revista Playboy deste mês e promete lançar, muito provavelmente no dia 15 de novembro, um livro contando histórias dos bastidores das relações políticas e de poder em Brasília.

Sob o título “A mulher que abalou a República”, a jornalista, mãe de uma filha de Renan, aparece nua na Playboy que chegará às bancas terça-feira, com expectativa de bater recordes de vendagem da revista em todo o país. Em entrevista concedida ontem sobre o novo trabalho, Mônica anunciou que fechou contrato com a editora Novo Conceito para publicar em livro a sua visão sobre a dinâmica dos relacionamentos que se estabelecem na capital do país.

O livro está sendo escrito de próprio punho, mas, segundo a jornalista, não trará nomes de políticos nem informações bombásticas sobre algum novo escândalo. “Há uma curiosidade grande em torno de coisas que acontecem lá (Brasília), das relações próximas entre políticos, jornalistas, publicitários, advogados, empresários. Tem uma avenida enorme para explorar. Tem muita história legal, as pessoas vão gostar”, disse Mônica, que é mineira e atualmente vive em Belo Horizonte.

Bastante segura, vestindo calça preta, camisa vermelha e sapato prateado de salto agulha, a jornalista mostrou preparo e tranqüilidade diante de todo tipo de pergunta. Da rotina de exercícios físicos ao futuro profissional, dos planos de fazer televisão à parte do próprio corpo de que mais gosta — a barriga. Mas se negou a falar sobre o peemedebista ou sobre a absolvição do senador: “Não vou falar absolutamente nada (...). Foi uma decisão política do Renan e de seus pares, eu não tenho nada a comentar”.

Pensão
Questionada sobre o pagamento da pensão de sua filha, Mônica respondeu que o repasse é feito normalmente, por meio de transferência bancária, na qual vem registrado “Senado Federal”. “É um direito da minha filha e vem sendo cumprido”, disse a jornalista.

E mostrou surpresa quando ouviu: “Há males que vêm para bem?” A pergunta fazia referência ao fato de que seu envolvimento com Renan acabou resultando em uma filha e em uma projeção jamais trazida por seus 20 anos de profissão. “Minha filha é uma bênção”, disse ela, que negociou dois meses com a Playboy para fazer o ensaio, cujo cachê não foi divulgado.

Mônica rejeitou comparações entre sua trajetória e a de outras mulheres que tiveram romances com políticos (ou se envolveram em CPIs) em Brasília e optaram por ocupar as páginas das revistas masculinas em troca de dinheiro e sucesso instantâneo. “Não sou celebridade. Decidi fazer o trabalho depois de ouvir muitas pessoas amigas. E ficou muito bonito, sou fotogênica.”

A jornalista também não viu identificação alguma entre sua história e o final dado à personagem Bebel, a garota de programa vivida pela atriz Camila Pitanga que, na novela Paraíso tropical, da Rede Globo, terminou como amante de um senador prestando depoimento em uma CPI: “Não acho que minha história tenha absolutamente nada a ver com a personagem. A obra é de ficção, o autor pode ter visto um fato na mídia e feito uma alusão qualquer. Acho engraçado, porque sou uma profissional jornalista, trabalho há 20 anos, 10 deles foram na Globo e o que vivi não tem nada a ver com o perfil da Bebel.”

Mônica disse estar preparada para as críticas e tem consciência de que elas virão. E destacou que haverá gente a apoiá-la e a condená-la. Confessou que o ensaio, feito em uma casa no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, lhe deu mais auto-estima, especialmente pelo fato de o Brasil valorizar demais a juventude: “Me senti muito bem, orgulhosa de ter quase 40 anos e receber o convite. Não me arrependo.”

A jornalista disse não acreditar que posar nua possa prejudicar sua carreira, recebeu e recusou algumas propostas de trabalho e contou que não vai mais trabalhar com marketing político. “Não me sentiria à vontade.” Descrita como “a flor no meio de um mar de lama” em um dos textos da Playboy, Mônica, que tem tatuagem com flores e borboletas no final das costas, diz estar sozinha, demonstra estar preparada para o sucesso e para bem mais do que 15 minutos de fama.

Não sou celebridade. Decidi fazer o trabalho depois de ouvir muitas pessoas amigas. E ficou muito bonito, sou fotogênica


Mônica Veloso, jornalista

Na próxima semana em todas as bancas do Brasil





















Evidente que a curiosidade é alma do negócio quando se fala de vendagem desse tipo de publicação. No entanto, a personagem em questão está "anos luz" em melhor forma que a titular do pedaço - é uma mulher de "catiguria".

Por livre e espontânea pressão

Uma intervenção de Aloizio Mercadante (PT-SP) deixou evidente que o presidente do Senado não disporia do suporte petista. Mercadante insurgiu-se contra a unificação processual. Defendeu que cada um dos três processos que ainda pendem sobre a cabeça de Renan tivesse relatores distintos.

De resto, Mercadante repisou a tese de que os três relatores deveriam realizar um trabalho concomitante, de modo a apresentar ao Conselho de Ética, em 30 dias, relatórios que permitam aos senadores ter uma visão global de todas as acusações que pairam sobre Renan. Eduardo Suplicy (PT-SP) e João Pedro (PT-AM) endossaram o encaminhamento de Mercadante.

Sentindo o cheiro de queimado, Quintanilha optou pelo vexame menor. Para não amargar uma derrota no voto, mudou de posição por espontânea pressão. Manteve a escolha de Almeida Lima, mas disse que ele relatará só um dos processos. Informou que indicará outro relator até amanhã. Ratificou o nome de João Pedro (PT-AM), que já relata um dos processos, o da cervejaria Schincariol. E aquiesceu quanto ao prazo de 30 dias sugerido por Mercadante.


Mais no blog do Josias de Souza aqui>>

Sistema de cotas imperfeito

Himmler para reitor da UnB

Sou em princípio a favor das cotas para determinados segmentos da população no vestibular das universidades federais brasileiras. Preferiria ver cotas para pobres de qualquer cor, mas é preciso reconhecer que os afro-descendentes só têm chance na sociedade brasileira se for para jogar futebol, tocar pagode ou despachar ebós nas esquinas. Então, as cotas para negros já são um avanço.

Só que fica difícil continuar a favor das cotas quando se vê o petismo e a demência moral tomando conta do processo. A UnB, que no ano passado sofreu o maior vexame ao determinar que um irmão gêmeo idêntico teria direito a concorrer pelas cotas e outro não, conseguiu criar um sistema ainda mais inacreditável do que tirar fotos dos candidatos e enviar para comissões avaliarem a negritude. Agora, os aprovados nas vagas reservadas para cotistas terão de se submeter a uma comissão, que decidirá se são negros mesmo.

Heinrich_Himmler.jpg
Hallo, Schwarzchen! Querr conhecerr as chuveirras do campus 'ma fêis?

Pois a NOVA CORJA tem uma sugestão muito mais prática. O Estado poderia fazer análises genealógicas de todos os supostos negros no momento do registro civil. Depois de definida a inequívoca afro-descendência, a criança seria obrigada a usar pelo resto da vida um triângulo com as cores da bandeira da Etiópia costurado nas roupas. Assim, não vai mais existir confusão na hora de definir quem é ou não cotista. A vantagem é que na Argentina, logo ali, existem diversos senhores com um grande know-how nesse sistema de classificação da população. Podemos aproveitar as vantagens oferecidas pelo Mercosul para fazer essa transferência de tecnologia.

Almeida Lima relatará denúncias contra Renan

O Senado prepara-se para mais uma incrível exposição pública que jogará ainda mais sua credibilidade na latrina.

Braço-direito de Renan vai relatar seus processos

O braço-direito de Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador peemedebista Almeida Lima (SE), vai relatar dois processos contra o presidente da Casa. A decisão foi tomada pelo também peemedebista Leomar Quintanilha (TO), presidente do Conselho de Ética.

Íntegra aqui>>

A traição dos amazônidas

Em entrevista ao jornalista Ray Cunha, Jorge Bessa confirmou algo que já foi dito pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto, autor de mais de uma dezena de livros sobre a Amazônia, e sobre o que eu também já observara: a mentalidade prevalecente do empresariado e dos políticos da Amazônia é tacanha. Isso explica, por si só, o atraso da região, seu viés colonizado, escravocrata, imediatista, atrasado.

Por exemplo: no Pará, a governadora Ana Júlia Carepa (PT) amontoou no seu gabinete, em apenas seis meses de governo, mais de 700 assessores especiais, entre os quais duas cabeleireiras que a atendiam num salão de beleza. Esse episódio virou escândalo nacional, obrigando Ana Júlia a demiti-las.

Enquanto isso, o Pará, como de resto a Amazônia, é assolado por mortalidade infantil alta, analfabetismo, desemprego, escravidão, prostituição infantil, alto índice de assassinatos no campo e nas maiores cidades, tráfico de drogas e de mulheres, falta de energia elétrica num estado que a exporta, piratas atacando embarcações e quadrilheiros que não são presos.

Leia a íntegra aqui>>

Infidelidade partidária, advogados e lexotam

Brasília - O polêmico julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da perda de mandatos dos parlamentares infiéis, que trocaram de partido desde as últimas eleições, domina as discussões no Congresso Nacional. Há acordo entre as lideranças dos partidos de oposição e da base aliada em relação à fidelidade partidária, ou seja, que os mandatos parlamentares pertencem aos partidos, mas não há consenso em relação a partir de quando uma lei neste sentido deve prevalecer.

Continue lendo>>

Fonte: ABC Polítiko

Sérgio Leão otimista com o futuro do Pará

Torna-se público pela primeira vez um trabalho da consultoria Ecconsult - Economia e Ecologia Consultoria, empresa criada há pouco tempo e que como diretor o economista Sérgio Leão, ex-secretário de Produção do governo do Estado. Estudo prevê investimentos de quase US$ 50 bi no Pará em oito anos.

Leia mais aqui>>

Senadora Patrícia Saboya filia-se no PDT

Pedetistas fizeram uma festa para marcar, ontem, a filiação da senadora Patrícia Saboya à agremiação














A senadora Patrícia Saboya se filiou ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) ontem, ao meio dia, em clima de campanha eleitoral. Deputados, vereadores e dirigentes de outros partidos políticos prestigiaram o ato que contou com a presença do presidente nacional do PDT, ministro Carlos Lupi, e das principais lideranças da agremiação no Ceará.

Patrícia Saboya disse que se sentia feliz por ingressar no PDT e fez questão de enfatizar que estava entrando para agregar. Quanto à possibilidade ser candidata à Prefeitura de Fortaleza no próximo ano não negou sua pretensão, mas lembrou a existência de um compromisso com o deputado estadual Heitor Férrer no sentido de que no momento apropriado quem estiver em melhor condições será o candidato.

Ao se referir a Fortaleza comparou a cidade a uma criança que precisa de colo, precisa ser cuidada, mas também precisa ter limites, ter leis e obras grandes de infra-estrutura.

Sobre o Partido Socialista Brasileiro (PSB) disse que estava saindo sem mágoas e sem ressentimentos e entendia a posição do governador Cid Gomes em função de compromissos assumidos. Aos novos companheiros do PDT agradeceu a acolhida e prometeu se empenhar em levar à frente as bandeiras de lutas da agremiação como é o caso do trabalhismo, da criança e da educação.

Todos os pedetistas que saudaram a senadora destacaram as suas qualidades como pessoa e como parlamentar. O deputado Heitor Férrer, envolvido em uma polêmica interna por questionar a filiação dela com o propósito de assegurar uma legenda para a disputa pela Prefeitura, disse que Patrícia vinha para somar e contribuir para o crescimento do partido.

André Figueiredo, presidente estadual do partido, lembrou que em 2002 o PDT ajudou a elegeu Patrícia senadora, indicando seu primeiro suplente o professor Flávio Torres, presidente de honra do partido.

O presidente nacional do PDT, ministro Carlos Lupi, disse que o PDT não é um partido de dono, mas um partido de causa. Por isso, se sentia honrado em receber a senadora que tem se constituído como uma defensora da causa das mulheres, da criança e da educação. Para ele, Patrícia Saboya não estava entrando no PDT, estava retornando porque as causas que defende sempre foram causas do PDT.

Frases

"Deixei o PSB porque não havia mais espaços para abrir um debate sobre os problemas da Cidade, em função do apoio do governador à reeleição da prefeita Luizianne Lins (PT)".

"No PDT, entro para somar ao lado do deputado Heitor Férrer, que também é pré-candidato, o que respeito".
Patrícia Saboya

"Eu apenas me habilitei. Não necessariamente eu tenha que ser o candidato. Temos vários nomes".

Reestatizar a Vale para encastelar aliados

Opositores ao movimento de reestatização da CVRD estão espalhando que o PÊ TÊ quer aparelhar a companhia com seus aliados políticos. Esse movimento vai dar o que falar.

Esse mesmo grupo divulga que, após a gestão da Vale privatizada sua eficiência mudou da água para o vinho. Confira:

1 - Em seis anos, ela recebeu US$ 44,6 bilhões em investimentos: nos 54 anos de estatismo, foram US$ 24 bilhões;

2 - Em 1997, inteiramente estatal, empregava 11 mil pessoas; hoje, 56 mil;

3 - Como estatal, produzia 35 milhões de toneladas de ferro; hoje, são 300 milhões;

4 - Em 1997, exportou US$ 3 bilhões; em 2006, US$ 10 bilhões (mais de um quarto do saldo positivo da balança comercial);

5 - Se a empresa realmente vale hoje US$ 50 bilhões, TRATA-SE DA VALE INTEIRA; em 1997, venderam-se por US$ 3 bilhões APENAS 42% das ações ordinárias;

6 - Quem continua a ser o verdadeiro "dono" da Vale? O fundo de pensão do Banco do Brasil e o BNDES: eles detêm dois terços do capital da empresa;

7- O outro terço se distribui entre Bradesco, a japonesa Mitsui e mais de 500 mil brasileiros que aplicaram parte do FGTS em ações da companhia.

Ciente da popularidade do mito, Veja tenta ridicularizar Che Guevara

A palhaçada é capa da semestral dessa semana e fala pelos cotovelos, com muita inveja, claro, de uma das mais extraordinárias figuras nascida na América Latina.
Pode esperar que amanhã os comuistas do PC do B vão baixar a porrada na revista.
Leiam.

Che


Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa

"Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto." Há quarenta anos, no dia 8 de outubro de 1967, essa frase foi gritada por um guerrilheiro maltrapilho e sujo metido em uma grota nos confins da Bolívia. Nunca mais foi lembrada. Seu esquecimento deve-se ao fato de que o pedido de misericórdia, o apelo desesperado pela própria vida e o reconhecimento sem disfarce da derrota não combinam com a aura mitológica criada em torno de tudo o que se refere à vida e à morte de Ernesto Guevara Lynch de la Serna, argentino de Rosário, o Che, que antes, para os companheiros, era apenas "el chancho", o porco, porque não gostava de banho e "tinha cheiro de rim fervido".


Diogo Schelp e Duda Teixeira

Foto Antonio Nunez Jimenez/AFP
ÀS VÉSPERAS DO GOLPE
Che em Caballete de Casas, em Cuba, em 1958: exceto na revolução cubana, sua vida foi uma seqüência de fracassos. Como guerrilheiro, foi derrotado no Congo e na Bolívia

VEJA TAMBÉM
Exclusivo on-line
Ouça entrevistas sobre Che

Essa é a realidade esquecida. No mito, sempre lembrado, ecoam as palavras ditas ao tenente boliviano Mário Terán, encarregado de sua execução, e que parecia hesitar em apertar o gatilho: "Você vai matar um homem". Essas, sim, servem de corolário perfeito a um guerreiro disposto ao sacrifício em nome de ideais que valem mais que a própria vida. Ambas as frases foram relatadas por várias testemunhas e meticulosamente anotadas pelo capitão Gary Prado Salmón, do Exército boliviano, responsável pela captura de Che. Provenientes das mesmas fontes, merecem, portanto, idêntica credibilidade. O esquecimento de uma frase e a perpetuação da outra resumem o sucesso da máquina de propaganda marxista na elaboração de seu maior e até então intocado mito. Che tem um apelo que beira a lenda entre os jovens dos cinco continentes. Como homem de carne e osso, com suas fraquezas, sua maníaca necessidade de matar pessoas, sua crença inabalável na violência política e a busca incessante da morte gloriosa, foi um ser desprezível. "Ele era adepto do totalitarismo até o último pêlo do corpo", escreveu sobre ele o jornalista francês Régis Debray, que por alguns meses conviveu com Che na Bolívia.

Por suas convicções ideológicas, Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel Castro. Entre a captura e a execução de Che na Bolívia, passaram-se 24 horas. Nesse período, o governo boliviano e os americanos da CIA que ajudaram na operação decidiram entre si o destino de Guevara. Execução sumária? Não para os padrões de Che. Centenas de homens que ele fuzilou em Cuba tiveram sua sorte selada em ritos sumários cujas deliberações muitas vezes não passavam de dez minutos.

VEJA conversou com historiadores, biógrafos, antigos companheiros de Che na guerrilha e no governo cubano na tentativa de entender como o rosto de um apologista da violência, voluntarioso e autoritário, foi parar no biquíni de Gisele Bündchen, no braço de Maradona, na barriga de Mike Tyson, em pôsteres e camisetas. Seu retrato clássico – feito pelo fotógrafo cubano Alberto Korda em 1960 – é a fotografia mais reproduzida de todos os tempos. O mito é particularmente enganoso por se sustentar no avesso do que o homem foi, pensou e realizou durante sua existência. Incapaz de compreender a vida em uma sociedade aberta e sempre disposto a eliminar a tiros os adversários – mesmo os que vestiam a mesma farda que ele –, Che é, paradoxalmente, visto como um símbolo da luta pela liberdade. Guevara é responsável direto pela morte de 49 jovens inexperientes recrutas que faziam o serviço militar obrigatório na Bolívia. Eles foram mobilizados para defender a soberania de sua pátria e expulsar os invasores cubanos, sob cujo fogo pereceram. Tendo ajudado a estabelecer um sistema de penúria em Cuba, Che agora é apresentado como um símbolo de justiça social. Politicamente dogmático, aferrado com unhas e dentes à rigidez do marxismo-leninismo em sua vertente mais totalitária, passa por livre-pensador.

O regime policialesco de Fidel Castro não permite que aqueles que conviveram com Che e permanecem em Cuba possam ir além da cinzenta ladainha oficial. Por isso, apesar do rancor que pode apimentar suas lembranças, os exilados cubanos são vozes de maior credibilidade. O movimento que derrubou o ditador Fulgencio Batista, em 1959, não foi uma ação de comunistas, como pretende Fidel Castro. Boa parte da liderança revolucionária e dos comandantes guerrilheiros tinha por objetivo a instauração da democracia em Cuba. Mas foi surpreendida por um golpe comunista dentro da revolução. Acabaram presos, fuzilados ou deportados. Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro. Na versão mitológica, Che era dono de um talento militar excepcional. Seus ex-companheiros, no entanto, lembram-se dele como um comandante imprudente, irascível, rápido em ordenar execuções e mais rápido ainda em liderar seus camaradas para a morte, em guerras sem futuro no Congo e na Bolívia.

The New York Times
A "MALDIÇÃO DE SATURNO"
Com Fidel em Havana, em 1959: "Que esta revolução não devore seus próprios filhos", dizia Fidel. Ele fez o contrário. As últimas transmissões de rádio de Che na Bolívia foram ignoradas em Havana


Huber Matos, que lutou sob as ordens do argentino em Cuba, falou a VEJA sobre o fracasso de Che como comandante: "A luta foi difícil na primavera de 1958. A frente de comportamento mais desastroso foi a de Che. Mas isso não o afetou, porque era o favorito de Fidel, que nos impedia de discutir abertamente o trabalho pífio de seu protegido como guerrilheiro". Pouco depois do triunfo da guerrilha, ao perceber os primeiros sinais de tirania, Huber renunciou a seu posto no governo revolucionário e informou que voltaria a ser professor. Preso dois dias depois, passou vinte anos na cadeia. Vive hoje em Miami. À moda soviética, sua imagem foi removida das fotos feitas durante a entrada solene em Havana, em que aparecia ao lado de Fidel e Camilo Cienfuegos, outro comandante não comunista desaparecido em circunstâncias misteriosas nos primórdios da revolução.

Nomeado comandante da fortaleza La Cabaña, para onde eram levados presos políticos, Che Guevara a converteu em campo de extermínio. Nos seis meses sob seu comando, duas centenas de desafetos foram fuzilados, sendo que apenas uma minoria era formada por torturadores e outros agentes violentos do regime de Batista. A maioria era apenas gente incômoda.

Napoleon Vilaboa, membro do Movimento 26 de Julho e assessor de Che em La Cabaña, conta agora ter levado ao gabinete do chefe um detido chamado José Castaño, oficial de inteligência do Exército de Batista. Sobre Castaño não pesava nenhuma acusação que pudesse produzir uma sentença de morte. Fidel chegou a ligar para Che para depor a favor de Castaño. Tarde demais. Enquanto dava voltas em torno de sua mesa e da cadeira onde estava o militar, Che sacou a pistola 45 e o matou ali mesmo com balaços na cabeça. Em outra ocasião, Che foi procurado por uma mãe desesperada, que implorou pela soltura do filho, um menino de 15 anos preso por pichar muros com inscrições contra Fidel. Um soldado informou a Che que o jovem seria fuzilado dali a alguns dias. O comandante, então, ordenou que fosse executado imediatamente, "para que a senhora não passasse pela angústia de uma espera mais longa".

Em seu diário da campanha em Sierra Maestra, Che antecipa o seu comportamento em La Cabaña. Ele descreve com naturalidade como executou Eutímio Guerra, um rebelde acusado de colaborar com os soldados de Batista: "Acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 no lado direito do crânio, com o orifício de saída no lobo temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Seus bens agora me pertenciam". Em outro momento, Che decidiu executar dois guerrilheiros acusados de ser informantes de Batista. Ele disse: "Essa gente, como é colaboradora da ditadura, tem de ser castigada com a morte". Como não havia provas contra a dupla, os outros rebeldes presentes se opuseram à decisão de Che. Sem lhes dar ouvidos, ele executou os dois com a própria pistola. Essa frieza e a crueldade sumiram atrás da moldura romântica que lhe emprestaram, construída pelos mesmos ideólogos que atribuíram a ele a frase famosa – "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". Frase criada pela propaganda esquerdista.

Como o jovem aventureiro que excursionou de motocicleta pelas Américas se tornou um assassino cruel e maníaco? O jornalista americano Jon Lee Anderson, autor da mais completa biografia de Che, escreveu que ele era um fatalista – e esse fatalismo aguçou-se depois que se juntou aos guerrilheiros cubanos. "Para ele, a realidade era apenas uma questão de preto e branco. Despertava toda manhã com a perspectiva de matar ou morrer pela causa", afirma Anderson.

Ernesto Guevara Lynch de la Serna nasceu em 14 de maio de 1928, em uma família de esquerdistas ricos na Argentina. Sofreu de asma a vida inteira. Antes de se formar em medicina, profissão que nunca exerceu de fato, viajou pela América do Sul durante oito meses. Depois de terminada a faculdade, saiu da Argentina para nunca mais voltar. Encontrou-se com Fidel Castro no México, em 1955, onde aprendeu técnicas de guerrilha. No ano seguinte, participou do desembarque em Cuba do pequeno contingente de revolucionários. Depois de dois anos de combates na Sierra Maestra, Fidel tomou o poder em Havana. Che ocupou-se primeiro dos fuzilamentos e, depois, da economia, assunto do qual nada entendia. José Illan, que foi vice-ministro de Finanças antes de fugir de Cuba, contou a VEJA que o argentino "desprezava os técnicos e tratava a nós, os jovens cubanos, com prepotência". No comando do Banco Central e depois do Ministério da Indústria, Che começou a nacionalizar a indústria e foi o principal defensor do controle estatal das fábricas. "Che era um utópico que acreditava que as coisas podiam ser feitas usando-se apenas a força de vontade", diz o historiador Pedro Corzo, do Instituto da Memória Histórica Cubana, em Miami. Como resultado de sua "força de vontade", a produção agrícola caiu pela metade e a indústria açucareira, o principal produto de exportação de Cuba, entrou em colapso. Em 1963, em estado de penúria, a ilha passou a viver da mesada enviada pela então União Soviética.

AFP
CASADO COM SI PRÓPRIO
Che com sua segunda mulher, Aleida March, no dia de seu casamento, em Havana, em 1959. Elas não podiam competir com o "chamado da aventura"

Não havia mais o que Che pudesse fazer em Cuba. Era ministro da Indústria, mas divergia de Fidel em questões relativas ao desenvolvimento econômico. De maneira simplista, ele acreditava que incentivos morais tinham maiores probabilidades de estimular o trabalho. Che também se tornou crítico feroz da União Soviética, da qual o regime cubano dependia para sobreviver. Não por discordar do Kremlin, mas porque julgava os soviéticos tímidos na promoção da revolução armada no Terceiro Mundo. Para se livrar dele, Fidel o mandou como delegado à Assembléia-Geral das Nações Unidas em 1964. No ano seguinte, Che foi secretamente combater no Congo, à frente de soldados cubanos. Ali, paralisado por incompreensíveis rivalidades tribais, derrotado no campo de batalha e abatido pela diarréia, Che propôs a seus comandados lutar até a morte. Mas foi demovido do propósito pela soldadesca, que não aceitou o sacrifício numa guerra sem sentido.

Daí em diante o argentino tornou-se uma figura patética. Em Havana, Fidel divulgara a carta em que ele renunciava à cidadania cubana e anunciava sua disposição de levar a guerra revolucionária a outras plagas. Pego de surpresa pela leitura prematura do documento, Che ficou no limbo, sem ter para onde voltar. "Sua vida foi uma seqüência de fracassos", disse a VEJA o historiador cubano Jaime Suchlicki, da Universidade de Miami. "Como médico, nunca exerceu a profissão. Como ministro e embaixador, não conseguiu o que queria. Como guerrilheiro, foi eficiente apenas em matar por causas sem futuro." Na falta de opções, Che escolheu a Bolívia para sua nova aventura guerrilheira. Ele lutaria em território montanhoso e inóspito, imerso na selva, sem falar o dialeto indígena dos camponeses bolivianos. O plano original era adentrar, pela fronteira, a província argentina de Salta. Mas um contigente exploratório foi aniquilado rapidamente pelo exército daquele país. A missão boliviana era, de todos os pontos de vista, suicida. Ainda assim, Fidel a apoiou, a ponto de designar alguns soldados de seu exército para o destacamento guerrilheiro. O ditador cubano também equipou e financiou a expedição, com a qual manteve contato até que seu fracasso se tornou evidente.

Além da falta de apoio do povo boliviano, que tratou os cubanos chefiados por Che como um bando de salteadores, a expedição fracassou também pela traição do Partido Comunista Boliviano. VEJA perguntou a um de seus mais altos dirigentes dos anos 60, Juan Coronel Quiroga: "O PCB traiu Che Guevara?". Resposta de Quiroga: "Sim". A explicação? "Nosso partido era afinado com Moscou, onde a estratégia de abrir focos de guerrilha como a de Che estava há muito desacreditada." Quiroga era amigo pessoal do então ministro da Defesa da Bolívia e conseguiu que as mãos do cadáver de Che Guevara fossem decepadas, mantidas em formol e entregues a ele. "Por anos guardei as mãos de Che debaixo da minha cama em um grande pote de vidro. Um dia meu filho deparou com aquilo e quase entrou em pânico", conta Quiroga. Anos mais tarde, coube a Quiroga a missão de entregar o lúgubre pote com as mãos de Guevara à Embaixada de Cuba em Moscou.

A morte de Che foi central para a estabilização do regime cubano nos anos 60, de acordo com o polonês naturalizado americano Tad Szulc, na sua celebrada biografia de Fidel. O fim do guerrilheiro argentino ajudou o ditador a pacificar suas relações com Moscou e ainda lhe forneceu um ícone de aceitação mais ampla que a própria revolução. O esforço de construção do mito foi facilitado por vários fatores. Quando morreu, Che era uma celebridade internacional. Boa-pinta, saía ótimo nas fotografias. A foto do pôster que enfeita quartos de milhões de jovens foi tirada num funeral em Havana, ao qual compareceram o filósofo francês Jean-Paul Sartre – que exaltou Che como "o mais completo ser humano de nossa era" – e sua mulher, a escritora Simone de Beauvoir. A foto de 1960 só ganhou divulgação mundial sete anos depois, nas páginas da revista Paris Match. Dois meses mais tarde, Che foi morto na selva boliviana e Fidel fez um comício à frente de uma enorme reprodução da imagem, que preenchia toda a fachada de um prédio público cubano. Nascia o pôster.

Três fatos ajudaram a consolidar o mito. O primeiro foi a morte prematura de Che, que eternizou sua imagem jovem. Aos 39 anos, ele estava longe de ser um adolescente quando foi abatido, mas a pinta de galã lhe garantia um aspecto juvenil. O fim precoce também o salvou de ser associado à agonia do comunismo. A decadência física e política de Fidel Castro, desmoralizado pela responsabilidade no isolamento e no atraso econômico que afligem o povo cubano, dá uma idéia do que poderia ter acontecido com Che, que era apenas dois anos mais jovem que o ditador.

Reuters
PARA IMPRESSIONAR "IKE"
Guevara e Fidel em jogo-treino de golfe para disputar uma partida, que nunca houve, com Eisenhower em Washington: "Fidel ganhou, mas Che o deixou ganhar"

O segundo fato foi a ajuda involuntária de seus algozes. Preocupados em reunir provas convincentes de que o guerrilheiro célebre estava morto, os militares bolivianos mandaram lavar o corpo e aparar e pentear sua barba e seu cabelo. Também resolveram trocar sua roupa imunda. Tudo isso para poder tirar fotos em que ele fosse facilmente identificado. O resultado é um retrato com espantosa semelhança com as pinturas barrocas do Cristo morto de expressão beatificada. A terceira contribuição recebida pelos esquerdistas na construção do mito veio do contexto histórico. Che morreu às vésperas dos grandes protestos em defesa dos direitos civis, da agitação dos movimentos estudantis e da revolução de costumes da contracultura – turbulências que marcaram o ano de 1968. Era um personagem perfeito para ser símbolo da juventude de então, que se definia pela "determinação exacerbada e narcisista de conseguir tudo aqui e agora", como escreveu o mexicano Jorge Castañeda, em sua biografia de Che. A história, no entanto, mostra que o homem era muito diferente do mito. Mas quem resiste? Neste mês, nos Estados Unidos, o cubano Gustavo Villoldo, chefe da equipe da CIA que participou da captura do guerrilheiro, vai leiloar uma mecha de cabelo de Che.

Se houve um ganhador da Guerra Fria, foi Che Guevara. Ele morreu e foi santificado antes que seu narcisismo suicida e os crimes que decorreram dele pudessem ser julgados com distanciamento, sob uma luz mais civilizada, que faria aflorar sua brutalidade com nitidez. Pobre Fidel Castro. Enquanto Che foi cristalizado na foto hipnótica de Alberto Korda, ele próprio, o supremo comandante, aparece cada dia mais roto, macilento, caduco, enquanto se desmancha lentamente dentro de um ridículo agasalho esportivo diante das lentes das câmeras da televisão estatal cubana. O método de luta política que Guevara adotou já era errado em seu tempo. No rastro de suas concepções de revolução pela revolução, a América Latina foi lançada em um banho de sangue e uma onda de destruição ainda não inteiramente avaliada e, pior, não totalmente assentada. O mito em torno de Che constitui-se numa muralha que impediu até agora a correta observação de alguns dos mais desastrosos eventos da história contemporânea das Américas. Está passando da hora de essa muralha cair.

A FRASE MAIS FAMOSA ATRIBUÍDA A GUEVARA É...
"Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura."

...OUTRAS MENOS CONHECIDAS REVELAM SUA REAL PERSONALIDADE:

"Estou na selva cubana, vivo e sedento de sangue."
Carta à esposa, Hilda Gadea, em janeiro de 1957


Keystone/Getty Images

"Fuzilamos e seguiremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta até a morte."
Discurso na Assembléia-Geral da ONU, em 11 de dezembro de 1964

"O ódio intransigente ao inimigo (...) converte (o combatente) em uma efetiva, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm de ser assim."
Revista cubana Tricontinental, em maio de 1967

O mundo tomou outro rumo

CUBA
Apesar de tentar exportar sua revolução, a ilha tornou-se a vitrine de seu fracasso. Sem liberdade política nem econômica, o país é um museu de prédios, carros e dirigentes decrépitos, onde comida, combustíveis e energia são racionados.


BOLÍVIA
O foco guerrilheiro de Guevara foi derrotado pela população pobre da Bolívia, que negou ajuda e ainda delatou o grupo.


CONGO
Guevara e um contingente de cubanos lutaram ao lado do chefe tribal Laurent Kabila contra o coronel Mobutu. Em 1997 Kabila finalmente derrubou Mobuto, mas foi assassinado em 2001. Em seu curto governo, 3 milhões de pessoas foram mortas em guerras tribais.

CHINA
A ideologia de Mao Tsé-tung, que Guevara citava como modelo de comunismo, foi sepultada pelos chineses.

COMUNISMO
Depois da queda do Muro de Berlim, a ideologia será lembrada sobretudo como a responsável pela morte de 100 milhões de pessoas.

VIETNÃ
Na frase famosa, Guevara propôs criar "dois, três, muitos Vietnãs". Acertou. A globalização da economia está criando Vietnãs pelo mundo – países adeptos da economia de mercado, com rápido crescimento econômico e aliados dos Estados Unidos.


"A ordem de execução veio pelo rádio"


Fotos divulgação
ção
O ÚLTIMO DIA DO GUERRILHEIRO

Maltrapilho e sujo, Guevara posa com os soldados

que o capturaram na vila de La Higuera, onde seria morto.

A seu lado, assinalado, está o agente da CIA Felix Rodríguez.

À direita, Felix hoje, em Miami

Felix Rodríguez foi uma das últimas pessoas

a conversar com Che Guevara.

Mais do que isso, foi ele quem recebeu

e transmitiu a ordem para que o guerrilheiro

fosse executado. Cubano exilado nos Estados Unidos,

ele era o operador de rádio enviado à Bolívia

pela CIA para auxiliar na caçada e, também,

para ajudar a identificar Guevara. Veterano da fracassada

invasão da Baía dos Porcos, em 1961, Rodríguez vive

hoje em Miami, aos 66 anos. Ele falou ao repórter Duda Teixeira.

COMO CHEGOU A ORDEM PARA MATAR CHE?

As instruções que recebi nos Estados Unidos

eram para poupar sua vida. A CIA sabia da divergência

de idéias entre Che e Fidel e acreditava que,

a longo prazo, ele poderia cooperar com a agência.

A ordem para sua execução veio por rádio,

de uma alta autoridade boliviana. Era uma mensagem

em código: "500, 600". O primeiro número, 500,

significava Guevara. O segundo, que ele deveria

ser morto. Tentei em vão convencer os militares

bolivianos a permitir que ele fosse levado para

ser interrogado no Panamá. Eles negaram meu

pedido e me deram um prazo. Eu deveria entregar

o corpo de Guevara até as 2 horas da tarde. Perto das

11h30, uma senhora aproximou-se de mim e

perguntou quando iríamos matá-lo, pois ouvira

no rádio que Che havia morrido em combate.

Naquele momento compreendi que a decisão

de executá-lo era irrevogável.

COMO FOI SUA ÚLTIMA CONVERSA COM ELE?

Fui até o local de seu cativeiro e disse a ele

que lamentava, mas eram ordens superiores.

Che ficou branco como um papel. "É melhor assim.

Eu nunca deveria ter sido capturado vivo", falou.

Tirou o cachimbo da boca e me pediu para que

o desse a um dos soldados. Ofereci-me para transmitir

mensagens à sua família. "Diga a Fidel que esse

fracasso não significa o fim da revolução, que logo ela

triunfará em alguma parte da América Latina",

ele falou em tom sarcástico. Aí lembrou da esposa.

"Diga a minha senhora que se case outra vez e trate

de ser feliz." Foram suas últimas palavras. Apertou a

minha mão e me deu um abraço, como se pensasse que

eu seria o carrasco. Saí dali e avisei a um tenente armado

com uma carabina M2, automática, que a ordem já tinha

sido dada. Recomendei a ele que atirasse da barba para

baixo, porque se supunha que Che havia morrido em combate.

Eram 13h10 quando escutei o barulho de tiros.

Che Guevara tinha sido morto.

COMO FOI O SEU PRIMEIRO CONTATO COM CHE GUEVARA?

Cheguei a La Higuera de helicóptero em 9 de

outubro, um dia depois da captura de Che Guevara.

Eu o encontrei com os pés e as mãos amarrados,

ao lado dos corpos de dois cubanos. Sangrava de uma

ferida na perna. Era um homem totalmente arrasado.

Parecia um mendigo.

COMO FORAM SUAS CONVERSAS COM CHE?

Nós nos tratamos com respeito. Eu o chamava de comandante.

Falamos de Cuba e de outras coisas, mas ele permanecia

calado quando as perguntas eram de interesse estratégico.

Houve momentos em que não consegui prestar atenção

ao que ele dizia. Ao olhar aquele homem derrotado,

vinha-me à mente sua imagem no passado,

altiva e arrogante.

COMO FORAM AS RELAÇÕES DE CHE COM A POPULAÇÃO NA BOLÍVIA?

Para sobreviver, é essencial que uma força guerrilheira

conte com o apoio da população local. A aventura de Che

na Bolívia foi um caso único em que uma guerrilha não

conseguiu recrutar um único morador da área onde atuou.

Só um agricultor ganhou a confiança dos guerrilheiros,

e mesmo esse acabou por passar informações que

permitiram ao Exército armar uma emboscada.

Os poucos bolivianos que participaram da guerrilha

eram dissidentes do Partido Comunista. Nenhum camponês.

POR QUE O SENHOR FOI ENVIADO À BOLÍVIA?

O Exército boliviano estava totalmente despreparado

para enfrentar uma guerrilha. A maior parte dos

soldados trabalhava na construção de estradas e

provavelmente jamais dera um tiro de fuzil. Nos

primeiros embates, os guerrilheiros aprisionavam

os soldados, tiravam suas roupas e os soltavam.

Foi então que o governo boliviano pediu ajuda aos Estados Unidos.

Limparam Che para a foto


No dia de sua morte, amarrado ao esqui de

um helicóptero militar, Che Guevara foi levado

do local da execução para um vilarejo chamado

Vallegrande. A brasileira Helle Alves, repórter,

e o fotógrafo Antonio Moura, então trabalhando

para o Diário da Noite, de São Paulo, viram a

chegada do corpo, que foi levado para a lavanderia

do hospital local (acima). Ali, Moura foi o único

jornalista a fotografar o corpo de Guevara ainda

sujo, vestido de trapos e calçado com o que

sobrou de uma botina artesanal de couro (abaixo).

Moura conseguiu fotografar o corpo antes da

limpeza e da arrumação. "Che usava um calço

em um dos calcanhares, provavelmente para

corrigir uma diferença de tamanho entre uma

perna e outra", lembra Helle. Ela contou pelo

menos dez marcas de tiro no corpo do argentino.

"Os moradores tinham raiva dele e invadiram

a lavanderia, mas, quando viram o corpo,

passaram a dizer que ele parecia Jesus Cristo.

" Começara o mito.

Fotos Antonio Moura

Ele está em toda parte


Fotos Mauricio Lima/Jonathan Utz-AFP e Alfredo Tedeschi-File-Reuters

O retrato de Che feito por Alberto Korda em 1960 é agora uma imagem de múltiplos significados: é pop no biquíni da Cia. Marítima vestido por Gisele Bündchen e uma manifestação de truculência e mau humor nas tatuagens de Maradona e Mike Tyson

Nota do blog: O jornalista francês Régis Debray não passa de um grande filho da puta que ganhou fama e dinheiro falando mal de Che.

Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados

  Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados A imagem peregrina da padroeira dos par...