O Turismo Sexual





Editorial


Com a chegada do Carnaval, tanto quanto o problema da segurança, a atividade sexual dos foliões vista como "turismo" precisa se transformar em objeto de políticas públicas mais visíveis e mais rígidas. Na segurança, todos esperam a adoção de controles de forma a um dia fazer da folia o que realmente ela deveria ser: uma grande festa popular, partilha da alegria por grandes massas, e não um período em que nos transformamos em território de guerra civil não declarada, com tantas mortes quanto no Iraque ou no Afeganistão.

O turismo é outra face dessa festa que, entre nós, tem que ser vista de forma diferenciada e localizada: não apenas temos um dos melhores carnavais do Brasil – se não o melhor –, mas estamos em tempo de veraneio, com praias mornas e muito sol, matérias-primas de atração para quem vive, neste período, temperaturas baixíssimas, como na Europa ou América do Norte.
A essas condições ideais de tempo e temperatura acrescenta-se a licença para qualquer um beber, beber até cair, e a licenciosidade com o sexo, que ultrapassa todas as barreiras e gera riscos igualmente diferenciados. Tanto que faz parte da festança a distribuição de preservativos, que muitas vezes funciona como uma senha ou estímulo ao prazer sem limites, de que decorrem, na ressaca, muitos dissabores.

Além da preocupação dos poderes públicos com a distribuição de preservativos, uma outra ganha corpo e cresce: o combate ao turismo sexual, objeto de políticas de saúde e de atenção policial. O Nordeste é hoje um dos maiores pólos mundiais dessa espécie deplorável de "lazer", com a invasão de hordas de turistas, principalmente trabalhadores europeus em férias, atraídos pelo exótico, pelo alardeado "calor" da mulher brasileira, em especial nordestina e litorânea, cuja nudez é exposta nas praias e nos folhetos de propaganda turística no exterior. A isso, os visitantes adicionam fantasias que são detalhadas hoje em muitos estudos acadêmicos onde se procura expor e tornar mais compreensível esse problema que atinge regiões mais pobres do globo, da Tailândia ao Nordeste brasileiro.

A constatação corrente da Organização Mundial do Turismo é que essa atividade aumenta com o crescimento da economia dos países. Chega a ser uma relação de causa e efeito, como se estivéssemos perante uma ciência exata. Com mais renda e mais tempo de lazer, o crescimento do turismo é exponencial e a chamada "indústria sem chaminés" passa a ocupar um papel extraordinário no mundo globalizado. De tão importante, chega a mudar o comportamento de sociedades inteiras – como a maior tolerância do francês aos turistas americanos – e algumas incorporam a atividade turística como base da economia. Há, porém, pedras no caminho, como é essa que coloca o Nordeste brasileiro em uma posição destacada e Pernambuco, principalmente durante o Carnaval, como áreas preferenciais de turismo sexual.

O problema é ainda maior porque esse tipo de turismo está associado à exploração da pobreza e agride as nossas leis quando é praticado indiscriminadamente, envolvendo crianças e adolescentes, cujo desempenho passa a ser exibido como "troféu" por esse tipo de turista. Em nossa perspectiva, essa é uma deformação da natureza humana e uma agressão à nossa cidadania. Fere a dignidade do povo e violenta a idade em que se forma o caráter e se alimenta a crença - ou descrença - nas instituições.

Assim, o Carnaval deve se transformar no período em que mais rigorosamente atuam as instituições. Mesmo se insurgindo contra a suposta "liberdade" que é, de fato, o afrouxamento do caráter e do ordenamento jurídico, com a violação de todos os artigos do Código Penal, impunemente. E se isso é feito por estrangeiros, mercadores e exploradores de sexo, é de se esperar o rigor da detenção e da expulsão do País, como uma forma de educar os de fora para virem nos visitar, sim, como se estivesse visitando os melhores amigos ou parentes.

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